sábado, 13 de setembro de 2014

#99 | Rio 2054 - Jorge Lourenço

Número de páginas: 374 | Autor: Jorge Lourenço
Editora: Novo Século | Ano: 2013 | Gêneros: Fantasia, Ficção Científica, Ação, Drama e Distopia | 1ª Edição.



Três décadas após uma guerra civil que começou com a disputa pelos royalties do petróleo, a cidade se vê alvo de uma nova ameaça. Um velho jogo de intrigas e espionagem industrial entre as multinacionais que controlam a cidade ganha novos contornos quando uma perigosa jovem com poderes psíquicos surge nos guetos. Alheio a tudo isso, Miguel é um jovem sem grandes pretensões. Morador de uma região abandonada no pós-guerra, ele sobrevive catando restos de tecnologia e tem uma vida despreocupada. Sem saber o que o destino lhe reserva, ele é convidado para assistir a um duelo de motoqueiros e acaba se tornando o pivô de uma disputa que pode mudar o Rio para sempre. Num lugar onde o bem e mal se confundem, Miguel terá que desvendar os segredos de uma misteriosa inteligência artificial e, para proteger aqueles que ama, bater de frente com as poucas pessoas dispostas a salvar o que resta do Rio de Janeiro. Sem saber que lado escolher, caberá a ele decidir o futuro de uma cidade partida pela ganância.


Incrível. Digno de adaptação cinematográfica. 

É assim que Rio 2054 define-se. Com uma linguagem simples, descritiva e explicativa Jorge Lourenço tece uma teia de personagens, revelações e tramas que vão caminhando para um final avassalador, misturando distopia com muita ficção científica e verdades cruéis – e até mesmo atuais – sobre a vida dos moradores ricos e pobres de uma Rio de Janeiro destruída pela guerra. A batalha pela partilha dos royalties do petróleo foi acompanhado de perto pelo mundo, e as intervenções políticas e armadas foram estritamente necessárias para calar os rebeldes, os quais ameaçavam explodir uma bomba nuclear causando mais destruição. O Rio de Janeiro tornou-se uma Zona de Internacionalização, a cidade maravilhosa encontra-se nas mãos das poderosas multinacionais. Poderosas, ricas e controladoras. É controlada por uma tríade estrangeira a: Alford Tech, empresa de tecnologia, a Spartan, segurança, e a Fiume Energy, energia.

A cidade foi dividia em Rio Alfa (chamado de Luzes) e Rio Beta (chamado de Escombros). Enquanto a Alfa enriquece cada vez mais, cria novas tecnologias e estabelece  sua hegemonia, o contraste com os Escombros aumenta. Do outro lado da muralha – o Túnel Rebouças divide a cidade, praticamente, ao meio – encontra-se caos, miséria, fome e exclusão social. Entre os excluídos estão os motoqueiros e líderes de gangues, subalternos dos grandes empresários das Luzes que fazem favores e trabalhos nada lícitos. As disputas entre estas gangues garante patrocínios de outros empresários e novos “trabalhos”, o que movimenta o negócio e assegura a renda deles. 

As disputas entre as gangues acontecem na Praça da Bandeira e sempre chamam a atenção dos vários moradores dos Escombros. É como se estes “rachas” tivessem ficado no lugar do clássico futebol.

Miguel é um jovem perdido na miséria. Ele frequenta o centro da cidade, que tem fama de radioativo depois da guerra civil, pega “emprestado” os livros de uma livraria abandonada e admira os resquícios de beleza do alto de um prédio. Sua vida muda bruscamente quando, convidado para um destes rachas, ele se depara com uma curiosa figura. 

Angra é o seu nome, ela e sua gangue, a Éden, formada por um maluco assassino e dois gêmeos obesos que usam máscaras respiradoras, decidem competir contra todas as outras gangues. Num primeiro momento são temidos por sua fama de destruidores, em outro a certeza da invencibilidade deles é certeira. Angra é detentora de poderosos poderes psíquicos, o que a torna quase invencível. 

A batalha de gangues acontece, e o melhor amigo de Miguel, Anderson, junto com a sua gangue chamada Os Caçadores terão que enfrentar a Éden. Como é o esperado os Caçadores são massacrados. Após a batalha a Éden é vangloriada por todos.
Anderson sai da batalha em um carrinho de mão puxado por Miguel, que o leva para o Hospital mais próximo. Entretanto ele é abordado por Fred, chefe de outra gangue que vê o estado deplorável de Anderson. Durante uma discussão eles são surpreendidos por outro membro de outra gangue — altas tretas pessoal — e durante esta discussão o outro homem tenta matar Anderson, mas isso não se concretiza. E aqui a história tem sua reviravolta.
"As pessoas são muito cômodas. Elas não sabem buscar novas opções, vivem restritas ao caminho no qual caem e passam suas vidas lutando para se manter dentro dele." (pg. 288).
Miguel também tem poderes psíquicos e se torna o único capaz de vencer Angra. 

Com o passa do tempo a ascensão dela nos Escombros provoca a separação do grupo de motoqueiros, os mais sábios e fortes se juntaram com Miguel para arrumar um jeito de vencê-la. Do lado deles estará o Rei do Rio, um mafioso poderoso que controla todos os negócios ilícitos dos Escombros. 
"As pessoas sempre usam umas às outras em benefício próprio, fosse no amor ou na guerra, para se confortar ou para se defender"
Rio 2054 trás um apunhado de personagens poderosos em todos os sentidos. 

Quando o livro chegou eu quis devorá-lo de imediato, mas me controlei. Sabia que para reter as informações de um manuscrito desta magnitude é necessário esperar, deixar que a história amadureça na estante. Um ano se passou e eu resolvi iniciá-lo durante a Maratona Literária 3.0. 

O começo foi difícil, são várias informações sendo jogadas para você. É necessário ter atenção para entender as divisões do Rio logo no início, elas serão fundamentais mais para frente. Jorge Lourenço aproveita cada personagem até onde pode, o interessante da narrativa dele é quando os próprios personagens contam a sua história em forma de diálogo com outro personagem, geralmente com o Miguel. 

Acho que quando o próprio personagem conta a sua história a narrativa fica mais agilizada e menos cansativo. O livro tem muitas descrições psicológicas, principalmente de Miguel que é o personagem principal. A amargura dele, a busca por um alguém dentro de si, a procura por uma solução em sua vida nos Escombros, o drama com a ex-namorada Nina, que acabou envolvendo-se com drogas e todos os outros dilemas distópicos são pontos que enriquecem o personagem e o enredo. Do meio para o final as coisas ficam cada vez mais sombrias, com direito a cenas de robôs monstruosos estraçalhando pessoas, rebeliões em praça pública, tiros, disputas e muitas, MUITAS REVELAÇÕES. 
"A aceitação de dúvidas e questionamentos é aliada do conhecimento" (pg. 206).
Os planos de Angra envolvem uma arma nuclear capaz de dizimar toda a população das Luzes, o que levanta uma pergunta: é melhor deixar que isso aconteça para o bem dos Escombros ou unificar os dois lados do Rio sem que haja derramamento de sangue? Daí para frente só lendo para saber. 

Rio 2054 abriu meus olhos para várias coisas, entre elas a desigualdade, aquela velha dualidade dos ricos e pobres presente reconrentemente nas grandes metrópoles. O livro é uma prova de que mesmo que as pessoas estejam em crise, morrendo e sendo exploradas o rico e poderoso não vai desistir nunca de ficar mais rico e poderoso, mesmo que tenha de pisar em alguém para isso.
 
Outro ponto: as pessoas que querem mudar de classe. Como exemplo a personagem Nina, que sonha em sair dos Escombros, ir para as Luzes e se tornar uma cidadã de lá, há todo um paralelo com nossa realidade. Podemos pegar o personagem de Nina e comparar com uma família do campo por exemplo, eles saem de sua zona, seja por sonhos com a cidade grande ou forçadamente. Mas Nina acaba descobrindo no decorrer da trama que as Luzes não são tão claras e maravilhosas como parecem. 

Jorge mistura muita tecnologia na trama, o que é um ponto a mais para a história e enriquecimento para o leitor. Há robôs humanos, robôs descartados, tecnologia de ponta entre outros. É uma leitura super valida para quem curte isso. Há também MUITA AÇÃO, com direito a luta entre personagens e tiroteios.
"As músicas falam de maneiras diferentes comigo. Uma música romântica parece conversar com minhas paixões. Um rock pesado fala com a minha rebeldia, minhas frustrações. Algumas, no entretanto, parecem dialogar diretamente com a minha alma." (pg. 204).
A edição da Novo Século não deixa a desejar como sempre, folhas amareladas, espaçamento perfeito e fonte razoável. Achei poucos erros de gramática e digitação. 

Rio 2054 merece 4 estrelas por sua geniosidade!

Rio 2054: fanpage do livro.

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